sexta-feira, 16 de abril de 2010

ASN TV já está no ar

A primeira experiência da Agência Adventista Sul-Americana de Notícias (ASN) na TV está no ar e poderá ser vista agora semanalmente em português e espanhol. ASN TV é um projeto que tem como objetivo destacar o que de principal tem ocorrido na Igreja Adventista do Sétimo Dia em toda a América do Sul.

ASN - 13/04/2010 from Igreja Adventista on Vimeo.

Estratégias e suas quantificações

Os três clássicos da sociologia, Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber, sempre foram referências nas disciplinas teóricas dos cursos de comunicação, em textos próprios e através de outros autores que seguiram seus métodos de análise. No entanto, uma capacidade que os dois primeiros mostraram intensamente e que no terceiro deu origem ao seu trabalho principal, não foi devidamente aproveitada nos currículos, salvo, talvez, exceções: a matemática e a estatística.

Tanto Durkheim como Marx usaram números com abundância para comprovar suas teses. Foram rigorosos em suas pesquisas e por isso produziram ciência social da maior qualidade. Max Weber não utilizou quantidades e sua obra é igualmente reconhecida como determinante. Porém, é interessante notar que em A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo o autor inicia com uma constatação-chave para sua pesquisa, proveniente da estatística, e após, conectando fatos, históricos e sociológicos e cimentando suas causalidades em um modelo descritivo que, pode-se dizer, aproxima-se do matemático pelo seu rigor, criou um fundamento das ciências sociais.

Contudo, números nunca foram conteúdos bem vindos no ensino e pesquisa da comunicação, o que é um erro porque matemática e estatística são imprescindíveis para se chegar a resultados objetivos, indiscutíveis – ou seja, científicos. (E antes que alguém observe que Marx, com suas equações, errou feio, me adianto e digo que seu erro foi ter minimizado o papel político do Estado em uma economia capitalista, porque o econômico, expressado na matemática das relações sociais de produção, está correto.)

Capacidade de quantificação

Números e palavras se complementam, os primeiros oferecendo exatidão, já que não admitem dúvidas, e as segundas explicando o que eles significam. Ao mesmo tempo, estimulam a racionalidade materializada em decisões estratégicas. E isso é importante no ramo de assessorias de comunicação, pois lidam com o bem intangível da imagem em situações de crise/conflitos.

Estratégia é resultado de um pensamento derivado da matemática, resultado do "espírito de cálculo", e é o suporte para que o indivíduo tenha algum controle sobre o futuro. Na perspectiva da Teo ria dos Jogos, Mário Henrique Simonsen, em seu livro Ensaios Analíticos, escreve: "Para cada jogador, uma estratégia é um plano completo de jogo. Esse plano deve indicar como o jogador escolherá cada um dos seus lances, conforme a evolução do jogo".

Não sendo uma mera abstração, este plano de ação deve indicar como se pode ganhar mais e perder menos, logo, são quantias que definem seu objetivo e, por isso, seu conteúdo deve ser convertido para valores numéricos. Em uma situação onde pode haver perda de imagem, e se essa for quantificada, preferir perder duas em vez de quatro é a escolha certa. Parece óbvio, mas na realidade não é assim tão fácil, porque para isto é preciso que se tenha a racionalidade de um jogo e capacidade de quantificação.

Técnicas e modelos

Por exemplo, vamos supor que uma empresa gera um fato negativo que pode prejudicar sua imagem. Estabelece-se um jogo entre a sua assessoria e uma emissora de televisão. Essa tem duas es tratégias: divulgar o fato e insistir no fato; e a assessoria, assumir a culpa e não assumir a culpa. Os ganhos e perdas são: para a empresa, imagem; para a TV, audiência.

Quantificando-se os ganhos e perdas e montando-se uma matriz de pagamentos com os valores, é possível demonstrar, matematicamente, e com simplicidade, que a melhor estratégia para a assessoria é assumir a culpa, e assim ela estará fazendo o melhor que pode em função das ações da TV, minimizando a perda de imagem da empresa. A escolha desta estratégia também é capaz de limitar as ações da TV e impedir o aumento de sua audiência.

Ao assumir a culpa, a assessoria encerrou o jogo e se a TV insistir no fato terá diminuição de audiência, porque, agora, não há mais interesse no assunto. No entanto, se a assessoria utilizasse a estratégia de não assumir a culpa, a TV teria ganhos de audiência, já que insistiria no fato, pois ainda haveria material a ser explorado, e a empresa teria perda de imagem maio r.

Neste caso, o melhor resultado para a assessoria exige a racionalidade do tipo "perder menos é ganhar" para a geração de respostas dentro da rapidez que envolve a produção da notícia, o que significa procurar o ponto ótimo, um equilíbrio entre perdas e ganhos. Mas, sobretudo, exige a transformação de declarações qualitativas, "subjetivas", o que se pensa como "melhor", geralmente sem parâmetros reais, em valores numéricos. Apenas o senso de medida pode obter o melhor.

Existem técnicas e modelos capazes de contabilizar bens intangíveis, como a imagem, de forma estrutural, para agregar valor econômico ao patrimônio. Na conjuntura de uma crise é preciso racionalizar, com agilidade, o que deve ser dito e feito, partindo do pressuposto de que a quantificação é decisiva para selecionar a melhor estratégia. Para isto, o trato com números deve fazer parte do trabalho de uma assessoria e dos currículos de comunicação.

Professor Hélio Schuch, no Observatório da Imprensa
Sugestão: Professor Ruben Dargan Holdorf

quarta-feira, 7 de abril de 2010

No Dia do Jornalista, Fenaj pressiona políticos pela aprovação das PECs

A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) prepara manifestações para marcar o dia do Jornalista, celebrado nesta quarta-feira (07/04). A entidade definiu com os sindicatos, reunidos no Conselho da Entidade, dia 27/03, a agenda de atividades, que tem como objetivo a aprovação das Propostas de Emenda Constitucional (PECs), que tramitam na Câmara e no Senado, em favor da exigência do diploma de jornalismo para o exercício da profissão.

“Todos os sindicatos estão preparando atividades. O eixo disso é a nossa luta pela exigência de diploma para atuar como jornalista. Estamos organizando manifestações junto ao Parlamento, Assembleias, junto aos deputados”, explicou Celso Schröder, vice-presidente da Fenaj.

De acordo com Schröder, a ideia da entidade é chamar a atenção para o debate sobre a profissão. “O dia vai ser lembrado pela reinvidicação da categoria. Existe um silêncio da grande mídia sobre esse assunto. A ideia é construir esse debate via imprensa alternativa e furar um pouco isso, além de dar ritmo aos nossos trabalhos na tramitação das PECs”.

No sindicato de Brasília, por exemplo, as atividades se concentrarão no Congresso Nacional, pela aprovação das PECs. Do outro lado da polêmica que envolve o diploma, o sindicato dos jornalistas de Santa Catarina realizará um seminário para debater a filiação de jornalistas sem formação superior específica.

Izabela Vasconcelos, do Comunique-se

terça-feira, 6 de abril de 2010

Entre o silêncio e o crime

O Vaticano está desnorteado. Como Estado e como religião. A inédita situação ficou visível na Sexta-Feira Santa, quando o reverendo Raniero Cantalamessa – pregador da Casa Papal há 30 anos – comparou as críticas mundiais à hierarquia católica com as acusações e calúnias que sofreram os judeus durante séculos.

"O uso de estereótipos, a passagem da culpa e responsabilidade pessoal para a culpa coletiva lembram os aspectos mais vergonhosos do anti-semitismo", disse o pregador. Horas depois ele foi desautorizado pelo porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi.

Intelectual de alto nível, o sacerdote franciscano Cantalamessa serviu-se de uma metáfora no mínimo insultuosa: ao longo de mais de um milênio as acusações aos judeus de praticarem assassinatos rituais (justamente na época do Pessach sempre próximo da Páscoa cristã) partiram de delirantes pregadores que percorriam a Europa clamando por castigos para os assassinos de Cristo. Impossível registrar o número depogroms, chacinas, linchamentos, violações e expulsões que se seguiram às desvairadas prédicas.

Uma coisa é certa: o preconceito cristão anti-semita solidificou-se e tornou-se institucional. Sobre ele erigiram-se nos séculos 15 e 16 as inquisições ibéricas e, no fim do 19, o anti-semitismo nacionalista e "científico" do qual o nazismo é o fruto mais sanguinário.

Jogo político

O reverendo Cantalamessa, não obstante os atributos intelectuais e espirituais, pecou: mentiu, caluniou, tentou subverter a história imaginando que com isso barraria a onda de críticas contra a tibieza da hierarquia católica diante dos abusos praticados por sacerdotes.

Foi um ato desesperado de um Estado que, de repente, se sente sitiado e vê-se obrigado a apelar para a religião que o sustenta. Desvendou a grande contradição que a ambos fragiliza. Religiões veneram monumentos sagrados, mas transcendem o espaço e o tempo; os mandamentos da fé não podem impor-se à legalidade dos Estados onde é praticada.

A omissão da hierarquia católica diante da avassaladora onda de abusos sexuais partiu de uma premissa enganosa que as Concordatas do Vaticano com países católicos – inclusive o Brasil – só aumentaram: as leis canônicas devem reger apenas a comunidade espiritual, os códigos civis regem as relações sociais. Abuso sexual é pecado, mas antes disso é crime e os crimes devem ser punidos mesmo quando praticados porcidadão especiais, os sacerdotes.

O celibato e os votos de castidade têm sido apontados como os principais responsáveis pelos desvios sexuais, pelos casamentos clandestinos de sacerdotes, pelo desestímulo às novas vocações e, sobretudo, pela evasão de religiosos já ordenados.

Esta é uma questão para os teólogos. O que tem garantido a impunidade dos pecadores e criminosos é uma questão política: raros são os Estados rigorosamente seculares. Nos Estados Unidos há um pseudo-secularismo que se mantém apenas como fator de equilíbrio confessional, controlador de eventuais hegemonias. Neste território semi-secular, vagamente laico, a igreja católica impõe os seus parâmetros, seus valores e suas leis. O mesmo acontece na Irlanda e na Alemanha. Nestas circunstâncias, até mesmo a mídia torna-se pseudo-secular, acomodando-se às dubiedades e ao jogo político delas resultantes.

Fanatismo e politização

Esta é a explicação para uma impunidade cínica que estimulou e agigantou a pedofilia. De repente, por casualidade ou causalidade estatística, a revelação e o choque nos dias mais sagrados do cristianismo.

Culpar o papa Bento 16 por esta situação é pérfido. O pontífice João Paulo 2º foi o grande protetor do padre Marcial Maciel, criador da Legião de Cristo. Quem puniu o mexicano e enquadrou publicamente sua entidade foi Bento 16.

A igreja católica enredou-se na sua hegemonia, esta é a verdade. A saída irônica, paradoxal, seria abrir mão dela. O que poderia reverter a atual dinâmica antivaticanista e amenizar o estresse seria a compreensão de que Estados e instituições verdadeiramente seculares – sobretudo a imprensa – são capazes de divulgar com serenidade e punir com severidade os abusos cometidos sob o manto da religião.

Esta não é uma questão que se situa apenas no âmbito teológico ou canônico da igreja católica. Esta é uma questão política capaz de reforçar a espiritualidade das religiões e torná-las menos sujeitas ao fanatismo e à politização.

Martinho Lutero surgiu e fortaleceu-se no meio de um terremoto de idêntica dimensão.

Alberto Dines, jornalista, no Observatório da Imprensa - http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=584JDB001